segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Pesquisadores encontram fragmento de cometa que atingiu a Terra há 28 milhões de anos
Há 28 milhões de anos, um cometa adentrou a atmosfera
terrestre, acima da região que viria a ser conhecida como Egito. Ao entrar em
contato com o ar, o cometa explodiu, espalhando uma enorme onda de fogo que
destruiu todas as formas de vida em seu caminho. O calor produzido foi tão alto
que transformou o solo do deserto em vidro. Nesta quinta-feira, pesquisadores
da Universidade de Witts, na África do Sul, anunciaram em uma palestra que
identificaram um pedaço do cometa responsável por toda essa destruição.
O pequeno pedaço de rocha preta é a primeira prova material
encontrada por cientistas de um cometa que atingiu a Terra. Formados em regiões
distantes do Sistema Solar, a partir de gelo e poeira, eles normalmente se
desintegram quando entram em contato com a atmosfera. “Os cometas são bolas de
neve sujas de poeira que sempre passam pelos nossos céus, mas nunca havíamos
encontrado o material de que eles são feitos na superfície terrestre",
afirma David Block, pesquisador da Universidade de Wits e um dos responsáveis
pela descoberta.
Em seu estudo, os pesquisadores realizaram uma análise das
propriedades químicas e físicas de uma pequena e brilhante rocha negra que
havia sido encontrada por geólogos no sudoeste do Egito. Dura e angular, a
pedra foi nomeada pelos cientistas de Hipátia, em homenagem à mais antiga
filósofa, astrônoma e matemática de que se tem notícia: Hipátia de Alexandria.
A análise dos pesquisadores mostrou que ela era composta
principalmente por carbono, com diamantes microscópicos espalhados ao longo de
sua massa. "Os diamantes são produzidos a partir do carbono. Normalmente
eles se formam no fundo da terra, onde a pressão é muito alta, mas também podem
ser gerados a partir de um impacto muito forte", afirma Jan Kramers,
pesquisador da Universidade de Joanesburgo.
As análises dos isótopos encontrados na rocha mostraram que
o material deveria ter origem extraterrestre, possivelmente fazendo parte do
núcleo de um cometa. A pesquisa descrevendo a análise será publicada em novembro
na revista Earth and Planetary Science Letters.
Joias e segredos — Um dos fatores que levou os cientistas a
relacionar o pedaço de rocha extraterrestre com o cometa que atingiu o Egito há
28 milhões de anos foi o local onde a pedra estava, no meio de uma área de 6.000 quilômetros
quadrados no deserto do Saara. Nesse lugar são encontrados, desde os tempos
antigos, pequenos fragmentos de vidro
amarelado.
Segundo os pesquisadores, esses fragmentos foram produzidos
justamente pelo impacto do cometa, quando o calor de até 2.000 graus Célsius
transformou a areia que cobria o solo em vidro. Um desses pedaços — polido —
foi parar em um pingente utilizado por Tutankhamon há mais de 3.000 anos.
Os cientistas afirmam que é extremamente raro encontrar
material de cometas na superfície da Terra. Os únicos fragmentos descobertos
até agora eram microscópicos, achados em meio à poeira flutuando na alta
atmosfera ou no gelo antártico. A Hipátia só não teve o mesmo destino porque
seu impacto com a Terra teria resultado na formação de um material mais
resistente às intempéries.
A descoberta de material presente em cometas é de alto
interesse científico, pois esses astros foram formados em regiões distantes, no
início do Sistema Solar. “Os cometas contêm os segredos para desvendarmos a
própria formação do Sistema Solar e esta descoberta fornece uma oportunidade
sem precedentes de estudos", disse Block. “A NASA e a Agência Espacial
Europeia gastam bilhões de dólares coletando algumas microgramas de material de
cometa no espaço e trazendo-o de volta à Terra. Agora, nós temos uma
possibilidade nova de estudar esse material, sem gastar tanto dinheiro para
coletá-lo", diz Kramers.
Fonte: veja.abril.com.br
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