domingo, 23 de fevereiro de 2014
Abelhas domesticadas podem estar levando doenças fatais às primas silvestres
06:43
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População de abelhas, tanto a de cativeiro quanto a
selvagem, está em declínio no mundo
Abelhas domesticadas doentes podem estar infectando suas
primas silvestres, segundo um estudo publicado na revista Nature, nesta
quarta-feira. A constatação é preocupante, porque esses insetos polinizadores
são vitais para a agricultura de todo o mundo.
A população de abelhas, tanto a de cativeiro quanto a
selvagem, está em declínio na Europa, na América e na Ásia por razões que os
cientistas ainda tentam entender. No novo estudo, pesquisadores encontraram
evidências de que as abelhas silvestres Bombus terrestris estão sendo afetadas
por vírus ou parasitas das primas produtoras de mel.
Em um experimento em laboratório, os cientistas expuseram
abelhas silvestres a dois patógenos — o vírus de asa deformada e o parasita
Nosema ceranae —, para constatar se elas podiam contrair doenças conhecidas por
afetar as produtoras de mel. "Nós detectamos que esses patógenos realmente
são contagiosos e reduzem a longevidade dos insetos significativamente",
disse o coautor da pesquisa Matthias Fuerst, da Universidade de Londres. A
expectativa de vida das operárias silvestres, que é de 21 dias, se reduz em um
terço ou um quarto, em caso de infecção.
Em uma segunda etapa, os cientistas capturaram Bombus
terrestris, conhecidas como abelhões, e abelhas melíferas em 26 regiões da
Grã-Bretanha, examinando-as para identificar alguma infecção. Constataram que,
nos mesmos locais, ambas tinham níveis similares dos patógenos analisados, o
que indicava uma conexão entre elas.
Por fim, a equipe verificou que as abelhas melíferas e
silvestres coletadas em lugares iguais tinham mais cepas intimamente ligadas do
mesmo vírus do que os insetos de outros locais, um claro indicador de
transmissão da doença entre as espécies. Embora não tenham conseguido
demonstrar definitivamente que os patógenos passaram das abelhas melíferas para
os abelhões, e não o contrário, os cientistas afirmaram que essa seria a
conclusão lógica. Mais abelhas melíferas do que abelhões se infectaram, e as
melíferas infectadas tinham níveis virais mais elevados do que os abelhões.
Segundo os cientistas, o principal veículo da infecção foi a
visita às flores, uma vez que os animais transportam patógenos em sua
trajetória. Os insetos também podem espalhar doenças ao invadir as colmeias
umas das outras em busca de mel ou néctar.
O misterioso sumiço das abelhas — Apicultores conseguem
tratar doenças nas colmeias, mas insetos silvestres não podem ser medicados.
"Não podemos sair procurando colmeias para tratar as abelhas",
explicou Mark Brown, coautor do estudo. "Já é um desafio tratar populações
selvagens de mamíferos onde há um pequeno número de indivíduos e os animais são
grandes."
A solução, segundo Brown, é evitar a disseminação a partir
de colmeias de melíferas. "Precisamos que elas sejam tão limpas quanto
possível, de forma que a contaminação do meio ambiente seja mitigada." O
declínio na população mundial de abelhas tem sido atribuído a causas diversas,
tais como o uso de pesticidas agrícolas, práticas de monocultura que destroem
as fontes de alimento dos insetos, vírus, fungos, ácaros, ou uma combinação
desses fatores.
Um informe da Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e a Alimentação (FAO) diz que os insetos polinizadores contribuem
com a produtividade de pelo menos 70% dos grandes cultivos humanos. O valor
econômico dos serviços de polinização foi estimado em 153 bilhões de euros (500
bilhões de reais) em 2005. As abelhas, especialmente os abelhões, respondem por
80% da polinização feita por insetos. "Esta é uma preocupação séria porque
as abelhas fornecem os serviços de polinização do ecossistema, sem o qual
perderíamos grande parte dos nossos cultivos e uma grande proporção da nossa
biodiversidade natural", disse Brown.
http://veja.abril.com.br/
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