A estrela HIP 102152 tem idade estimada de 8,2 bilhões de
anos, contra “apenas” 4,6 bilhões do Sol
Uma equipe internacional de astrônomos, liderada por
brasileiros, anunciou nesta quarta-feira a descoberta da estrela gêmea do Sol
mais velha conhecida até hoje. Situada a
250 anos-luz da Terra, na constelação do Capricórnio, a estrela HIP 102152 tem
idade estimada de 8,2 bilhões de anos – contra "apenas" 4,6 bilhões
do Sol.
Gêmeas solares são estrelas que possuem massa, temperatura e
composição química semelhantes às do Sol. Elas ajudam os pesquisadores a prever
o que deve acontecer com a estrela nos próximos bilhões de anos ou, no caso das
gêmeas mais novas, como ela tem se modificado ao longo do tempo.
A descoberta da primeira gêmea solar, denominada 18 Scorpii,
ocorreu em 1997. Desde então astrônomos do mundo todo procuram por mais astros
com as mesmas características. A nova estrela gêmea, além de ser a mais velha,
é mais parecida com o Sol do que qualquer outra.
O estudo foi realizado com dados do Very Large Telescope, do
Observatório Europeu do Sul (ESO), que fica no Deserto do Atacama, no Chile. Em
mais de 40 noites de observação, os pesquisadores estudaram a composição
química e outras características da estrela. O estudo que relata as descobertas
da equipe foi divulgado nesta quarta-feira no site do periódico Astrophysical
Journal Letters e sairá em sua versão impressa no próximo mês.
O mistério do lítio – O estudo já permitiu aos pesquisadores
contribuir para a solução de um mistério de seis décadas. Por meio do estudo de
meteoritos, os pesquisadores sabem que, durante sua formação, o Sol tinha uma
quantidade de lítio muito maior do que a atual (estima-se que a quantidade
existente agora corresponda a cerca de 1% da original). Gêmeas solares também
têm quantidades maiores deste elemento. O que teria acontecido com o lítio
presente no Sol?
Com a descoberta da HIP 102152, que tem em sua composição
ainda menos lítio do que o Sol, os pesquisadores descobriram que há uma
correlação entre a quantidade do elemento químico e a idade da estrela:
conforme o astro envelhece, os processos que ocorrem em seu interior fazem com
que a quantidade de lítio diminua.
Busca por planetas – As análises da nova gêmea mostraram
ainda que, assim como o Sol, ela apresenta uma deficiência nos elementos
refratários, aqueles que são capazes de suportar altas temperaturas e também
são abundantes em meteoritos e em planetas rochosos, como a Terra. Os
pesquisadores acreditam que esses elementos se encontram em menor quantidade no
Sol exatamente porque foram incorporados aos planetas rochosos que fazem parte
do Sistema Solar. O fato de a HIP 102152 apresentar as mesmas características
indica que ela pode hospedar planetas desse tipo, apesar de nenhum deles ter
sido encontrado até o momento orbitando a estrela.
Também não foi encontrado nenhum planeta gigante, como
Júpiter, na zona habitável da estrela. Jorge Meléndez, pesquisador Departamento
de Astronomia da Universidade de São Paulo e um dos autores do estudo, explica
que esse fato reforça a possibilidade de que um planeta parecido com a Terra
possa existir. Isso porque os equipamentos disponíveis atualmente não conseguem
identificar planetas pequenos como a Terra, mas os planetas gigantes são mais
facilmente encontrados. A existência de algum deles na zona habitável da estrela
tornaria improvável a presença de um planeta rochoso, já que sua órbita seria
desestabilizada pelo corpo celeste maior.
Fonte: veja.abril.com.br
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