sexta-feira, 19 de julho de 2013

Pesquisa sugere que primeiros grupos humanos não se dedicavam a guerras

Cientistas finlandeses mostraram que povos caçadores-coletores não costumam guerrear entre si — 85% das mortes foram causadas por disputas dentro dos próprios grupos


Uma nova pesquisa sugere que a guerra não faz parte da natureza humana. Ao contrário, quando os homens estão reunidos em pequenos bandos de caçadores-coletores — considerado o modelo mais antigo de comportamento humano —, esses grupos dificilmente se envolvem em grandes conflitos. Segundo os dados apresentados nesta quinta-feira na revista Science, os ancestrais dos humanos modernos matavam uns aos outros, principalmente, por motivos pessoais. A guerra e as grandes disputas violentas por recursos só se tornariam comuns mais tarde, com o desenvolvimento de sociedades mais complexas.

A discussão sobre a violência entre os caçadores-coletores é antiga entre os cientistas e pensadores. Como esse foi o primeiro modo de organização dos seres humanos — e o modo em que eles sobreviveram pela maior parte de sua história —, sua possível tendência à guerra diz muito sobre os modos de organização da sociedade e sobre a própria natureza do homem.

Em 2011, o psicólogo canadense Steven Pinker publicou o livro Os Anjos Bons de Nossa Natureza, no qual defende que os antepassados humanos viviam envoltos em conflitos sanguinários, que só começaram a diminuir com o aumento da razão e do conhecimento, principalmente a partir do iluminismo. Os dias de hoje seriam os mais pacíficos de toda a história. Suas ideias foram rebatidas em um artigo publicado pelo primatologista holandês Frans de Waal, que mostrava não existir nenhuma predisposição genética à guerra, e que mesmo os outros grandes primatas eram capazes de conter a violência, sem necessidade de recorrer ao racionalismo. O homem seria naturalmente pacífico.

Na contribuição mais recente à discussão, publicada nesta quinta-feira, os pesquisadores finlandeses resolveram sair do plano teórico e analisar os tipos de assassinatos que eram cometidos entre os caçadores-coletores. Como não podiam estudar grupos que viveram há milhares de anos, eles se debruçaram sobre um banco de dados que reúne informações sobre 186 sociedades caçadoras-coletoras que sobreviveram até o século 20, como os !Kung, no sul da África, e os Semang, na Malásia. Ao escolher de modo aleatório 21 dessas sociedades, eles se depararam com 148 mortes violentas. Apenas uma pequena parte delas, no entanto, teria sido causada pela guerra.

Guerra e paz — Segundo os pesquisadores, a maioria dessas mortes poderia ser creditada a homicídios comuns, causados por disputas pessoais em vez de grupais. Pelo menos 55% dos assassinatos haviam sido cometidos de forma isolada — com apenas um assassino e uma vítima. Mais de dois terços de todas as mortes podem ser atribuídas a brigas familiares, competições por parceiros sexuais, acidentes ou execuções decididas pelo grupo, como punições a um roubo, por exemplo.

Cerca de um terço de todas as mortes aconteceram por causa de disputas entre membros de grupos diferentes — o que poderia ser chamado de guerra. No entanto, três terços dessas mortes foram causadas por membros do povo Tiwi, um grupo particularmente violento da Austrália. Se eles forem retirados da estatística, as mortes causadas por disputas externas representam apenas 15% do total registrado nos outros vinte grupos estudados.


Ainda existe uma discussão entre os cientistas se o estudo de grupos caçadores-coletores modernos é o ideal para compreender o comportamento dos primeiros seres humanos. Os pesquisadores do estudo atual, no entanto, dizem que eles são o melhor modelo encontrado até hoje para estudar essas sociedades. O resultado sugere que a guerra não está enraizada no comportamento mais antigo do homem — não está registrada em seu sangue ou DNA —, mas foi adotada mais recentemente, possivelmente após o advento da agricultura.

Fonte: veja.abril.com.br

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