segunda-feira, 2 de março de 2015

Chelicerata

Os Chelicerata compreendem as aranhas, escorpiões, ácaros, escorpiões-vinagre e aranhas-do-mar, entre outros, os quais são incluídos nos táxons Arachnida, Xyphosura e Pycnogonida. O extenso registro fossilífero dos quelicerados mostra que a origem desse grupo deu-se no Pré-Cambriano, em ambientes marinhos. Atualmente, apenas Xyphosura e Pycnogonida apresentam representantes marinhos e, entre os Arachnida, apenas alguns ácaros e aranhas invadiram secundariamente o ambiente aquático, como uma adaptação secundaria. Chelicerata é o segundo maior grupo de invertebrados terrestres, com cerca de 65.000 espécies conhecidas, perdendo apenas para os insetos.
Os Chelicerata formam um grupo monofilético dentro de Arthropoda, tendo como principal sinapormorfia a presença de quelíceras. Pycnogonida, as aranhas-do-mar, apesar de apesentarem uma probóscide, pernas ovígeras e opistossoma reduzido, deve ser o grupo-irmão de Xyphosura + Arachnida. Os Merostomata, que tradicionalmente reuniam Xyphosura (os límulus) e Eurypterida (escorpiões-marinhos, já extintos) não deve formar um grupo monofilético, uma vez que os Eurypterida –um grupo extinto de água doce- estariam mais relacionados com os Arachnida que com os Xyphosura.
Como todos os artrópodes, os quelicerados apresentam um exoesqueleto quitinoso e apêndices articulados, porém apresentam características únicas, como a divisão do corpo em prossoma e opistossoma. O primeiro é formado pela fusão do céfalon original de Ecdysozoa e alguns outros segmentos, apresentando seis pares de apêndices. O primeiro par de apêndices recebe o nome de quelíceras, têm um número reduzido de artículos, com forma de garra ou quela e são homólogas às antenas dos insetos ou as antenas anteriores dos crustáceos. O segundo par de apêndices, os pedipalpos têm origem no terceiro segmento. Os quatro pares de apêndices restantes são as pernas locomotoras, correspondendo ao quarto, quinto, sexto e sétimo segmento.
A conquista do meio terrestre está associada a diversas modificações nos sistemas respiratório, excretor, no mecanismo de contenção de água, na locomoção e nas estratégias alimentares. Com relação à respiração, os quelicerados passaram de uma respiração branquial (já que o ancestral era marinho) para uma respiração aérea. Os pulmões foliáceos são uma modificação das brânquias foliáceas, encontradas nos Xiphosura. Quelicerados mais derivados apresentam também um sistema traqueal análogo (mas não homólogo) ao dos insetos.
Com relação à excreção, originalmente de amônia nos ambientes aquáticos, passa a ser de guanina, xantina e ácido úrico, este último característico de animais de hábitos terrestres. A excreção nos quelicerados terrestres dá-se por meio das glândulas coxais e túbulos de Malpighi. As glândulas coxais são homólogas aos metanefrídios, presentes também em onicóforos e tardígrados. Os túbulos de Malpighi em aracnídeos são, mais uma vez, análogos mas não homólogos às estruturas com esse mesmo nome nos Tracheata.
Para evitar a perda d’água pela parede do corpo, há uma cerificação do exoesqueleto. O mecanismo de locomoção, que no ancestral era natatório, no ambiente terrestre passou a ser ambulatorial, com músculos fortes para impulsionar o corpo e deixa-lo pouco acima do solo, o que permitiu deslocamentos rápidos.
As estratégias alimentares também sofreram alterações. A maioria dos quelicerados regurgita enzimas digestivas, apresentando digestão inicial externa, seguida de ingestão de suco alimentar formado pelo alimento pré-digerido. Tanto as quelíceras como os pedipalpos estão modificados para capturar e, em alguns, para dilacerar suas presas.
Os ácaros formam o grupo que sofreu mais alterações na estrutura corporal, possibilitando novas formas de alimentação. Nesse grupo, o conjunto das quelíceras e pedipalpos forma um cone bucal adaptado para picar e sugar e, assim, esses quelicerados são os únicos que apresentam herbivoria e hematofagia. Os herbívoros alimentam-se de sucos vegetais, perfurando o tecido e sugando seiva ou parênquima e os hematófagos são ectoparasitas, perfurando o tecido do corpo e sugando o sangue de seus hospedeiros. O demais quelicerados, inclusive Pycnogonida, são predadores.

fonte: livro Invertebrados: Manual de Aulas Práticas

Cibele S. Ribeiro-Costa, Rosana Moreira da Rocha

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