Um vírus gigante que permaneceu 30 000 anos dormente na
superfície gelada da Sibéria, voltou à vida em laboratórios franceses. Batizado
Mollivirus sibericum, o novo tipo de vírus tem 0,6 micrômetro de comprimento (1
micrômetro equivale à milésima parte do milímetro) e contém 650 000 genes. Ele
não oferece risco aos humanos, mas sua descoberta, publicada nesta
segunda-feira (7) na revista Proceedings of the National Academy of Sciences
(PNAS), revela que vírus como esse podem permanecer contagiosos por milênios.
No futuro, devido às mudanças climáticas e à exploração de regiões árticas,
eles poderiam se tornar uma ameaça.
O novo vírus foi encontrado em uma camada do solo siberiano
chamada permafrost, formada por gelo, terra e rochas congeladas, a 30 metros da
superfície. Ele foi descoberto pela mesma equipe de cientistas do Centro
Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS, na sigla em francês) que, em 2014,
ressuscitou o Phitovirus sibericum, o maior vírus já visto pela ciência. Eles
voltaram à Sibéria, com o objetivo de descobrir mais detalhes sobre os vírus
gigantes que estão nessa camada e encontraram a nova espécie. Após
descongelado, o Mollivirus infectou amebas da família Acanthamoeba castellanii,
hospedeira de micro-organismos gigantes. Ele foi capaz de se reproduzir e
fazê-las morrer.
Mudanças climáticas - Vírus gigantes (para receber o nome de
"gigante" ele precisa ter mais de 0,5 micrômetro) como os vistos na
Sibéria infectam exclusivamente estruturas unicelulares, como a ameba, porque é
fácil entrar nelas. Elas se alimentam por um processo chamado fagocitose, que
engloba partículas - como o vírus gigante. A maior parte das células humanas e
de outras células animais têm processos de defesas mais sofisticados e, por
isso, os vírus que as afetam usam estratégias mais complexas de entrada. Essa é
a razão por que vírus como o da gripe são cerca de cem vezes menores que os
vírus gigantes e têm apenas uma dezena de genes (o da gripe tem 13 genes).
Uma das preocupações dos cientistas é a comprovação de que
vírus assim podem manter seu poder de contágio por muito mais tempo que o
esperado. Em vez de serem eliminados do planeta, eles permanecem inativos,
passando uma falsa sensação de segurança. A apreensão é por que, com as
mudanças climáticas, a camada do permafrost, que permanece congelada, está cada
vez mais fina e suscetível ao degelo - a cada ano, ela perde até 40
centímentos. Isso poderia "acordar" os vírus gigantes e outros
micro-organismos potencialmente perigosos que estão dormentes ali.
"Algumas partículas virais ainda infecciosas podem, em
presença de um hospedeiro favorável, serem suficientes para fazer ressurgir um
vírus potencialmente perigoso nas regiões árticas, cada vez mais exploradas por
seus recursos minerais e petrolíferos e cuja acessibilidade e exploração
industrial são facilitadas pelas mudanças climáticas", afirmaram os
autores em comunicado do CNRS.
Em entrevista à rede francesa France Info, Jean Michel
Claverie, professor de medicina na Universidade Aix - Marseille, na França, e
um dos autores da pesquisa, afirmou que é possível que os vírus gigantes sejam
uma ameaça futura - afinal, vírus são estruturas com alto potencial para
mutações. "O aquecimento torna acessíveis lugares até então inacessíveis
ao homem. E então, vírus que nunca haviam sido perturbados vêm à tona. Mas, se
pessoas colonizarem aquela região, é possível que façam ressurgir velhos
horrores do passado, inclusive doenças já erradicadas".
fonte: veja.abril.com.br
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