O poderoso veneno de uma vespa encontrada no Sudeste
brasileiro pode ser o mais novo aliado da luta contra o câncer. A agressiva
Polybia paulista, conhecida como "paulistinha", produz uma toxina
capaz de destruir as células dos tumores sem agredir células saudáveis. De
acordo com um estudo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da
Universidade de Leeds, na Inglaterra, a ação da substância pode inspirar uma
nova classe de medicamentos para combater a doença.
O inseto, descoberto e descrito pelo professor Mário Palma,
da Unesp de Rio Claro e um dos autores do artigo, fabrica a MP1, que é capaz de
atacar os lipídios (moléculas de gordura) contidos na membrana das células dos
tumores, poupando as sadias. Os pesquisadores sabiam que a toxina agia contra
micróbios causadores de doenças destruindo a membrana das células bacterianas.
Mais tarde, os estudos revelaram que a toxina é promissora para proteger
humanos de câncer e tem capacidade para inibir o crescimento de células de
tumores de próstata e de bexiga, além de células de leucemias resistentes a
várias drogas. Mas, até agora, não se sabia como a MP1 conseguia destruir
seletivamente as células tumorais.
Novas drogas - Esse mecanismo de ação da toxina foi descrito
pelos pesquisadores brasileiros e ingleses em um artigo publicado nesta semana
no periódico Biophysical Journal. Os cientistas pesquisaram sua ação em
linfócitos com leucemia e perceberam que a MP1 consegue abrir fendas nas
membranas das células doentes, fazendo com que deixem escapar proteínas e
outras substâncias que as mantêm vivas. Essa é a característica que,
futuramente, pode ser aprimorada para propósitos clínicos.
"Terapias contra o câncer que atacam a composição de
lipídios da membrana da célula seriam uma classe inteiramente nova de drogas
antitumorais. Isso poderia ser útil para o desenvolvimento de novas terapias
combinadas, nas quais múltiplas drogas são utilizadas para tratar um câncer
atacando diferentes partes de suas células simultaneamente", disse Paul
Beales, um dos autores do estudo.
Essa seria uma maneira inovadora de combater o câncer, pois
atua na membrana das células e não no núcleo, o alvo da maior parte dos estudos
desenvolvidos atualmente. De acordo com os autores, os próximos passos serão
tentar manipular a estrutura da toxina para verificar se ela se mantém eficaz
no combate ao câncer e, se isso for possível, começar os testes em animais. Se
essas etapas se mantiverem promissoras, ensaios clínicos com humanos poderão
ser feitos no futuro.
fonte: veja.abril.com.br
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