Estudo divulgado hoje (25) na revista americana Science pode
representar alívio para oceanógrafos e climatologistas. Uma equipe da
Universidade do Texas, em parceria com a Universidade de Oregon, descobriu que
alguns corais da espécie Acropora millepora, localizados em áreas quentes da
Grande Barreira de Corais, na Austrália, já apresentam variações genéticas que
os tornam resistentes a águas mais quentes.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores compararam os
corais presentes em áreas mais quentes da Grande Barreira dos Corais, na
Austrália, com outros situados em uma região quase 500 quilômetros ao sul. Eles
acabaram descobrindo que larvas descendentes de corais do norte, cuja água é 2
graus mais quente, tinham dez vezes mais chance de sobreviver a maiores
temperaturas, se comparadas às do sul.
Depois de identificar a diferença na resistência das duas,
os pesquisadores analisaram o genoma das larvas e descobriram variações
genéticas que estariam relacionadas a essa tolerância ao calor. Além disso,
descobriram que mesmo quando os corais resistentes cruzam com os do sul, eles
conseguem transmitir os genes resistentes.
Apesar de os pesquisadores terem focado o trabalho em apenas
uma espécie, eles destacam que é grande a possibilidade de que outros corais
tenham desenvolvido o mesmo mecanismo. "É muito provável que a variação
genética será estruturada de forma similar em muitas, se não na maior parte, de
espécies de corais que compartilham a mesma estratégia reprodutiva: liberar
gametas na água uma vez por ano, que se dispersam em forma de larva. Mas isso
ainda terá de ser confirmado", disse ao site de VEJA Mikhail Matz,
professor de biologia da Universidade do Texas em Austin e um dos autores do
estudo.
O artigo ainda aponta que o homem poderia ajudar na
preservação dos corais justamente ao espalhar pelos oceanos os que já
desenvolveram genes resistentes. Os mares do Caribe e do norte do Oceano
Pacífico abrigam corais similares aos estudados que, portanto, poderiam se
beneficiar da descoberta.
"Os corais não têm que esperar parar as mutações
aparecerem. A larva do coral pode cruzar oceanos naturalmente, mas humanos
também conseguem contribuir, realocando corais adultos para acelerar o
processo", disse Matz. Ele destaca, porém, que um coral só poderia ser
transferido para outro lugar dentro de seu habitat natural, o que quer dizer
que um da Austrália que já tenha desenvolvido os genes não poderia ser levado
para o Caribe, porque com ele possivelmente iriam doenças e outras ameaças à
população nativa.
Os corais são conhecidos por serem os primeiros seres vivos
a sofrerem com (e sinalizarem) os efeitos das mudanças climáticas. O aumento da
temperatura das águas faz com que eles percam o tom alaranjado e comecem a
ficar esbranquiçados. Isso acontece porque, com as altas temperaturas, os
corais expelem as algas que vivem em seu tecido, tornando-se ainda mais
vulneráveis.
O cientista Mikhail Matz deixa um recado para aqueles que
encaram o artigo como uma solução para o aquecimento global: "Nossa
descoberta de maneira nenhuma deve ser encarada como uma pílula mágica que
resolverá o problema. Essa variação genética vai nos dar mais tempo, mas
eventualmente esse prazo se esgotará quando as temperaturas esquentarem demasiadamente",
disse. "Se quisermos salvar os corais, assim como o resto da
biodiversidade do planeta, ainda precisamos desenvolver uma solução para frear
de vez o aquecimento global", acrescenta.
fonte: veja.abril.com.br
0 comentários:
Postar um comentário