Relatório aponta que a concentração do gás atingiu o nível
de 400 partes por milhão, o que não acontece há provavelmente mais de 3,5
milhões de anos
Nesta quinta-feira, a concentração de dióxido de carbono
(CO2) na atmosfera medida diariamente pelo Observatório Mauna Loa, no Havaí,
ultrapassou a marca de 400 partes por milhão pela primeira vez desde o início
das medições, em 1958. Segundo os pesquisadores, o valor é simbólico, pois
nunca foi atingido durante toda a História da humanidade — pesquisas mostram
que a última vez em que a concentração do gás na atmosfera chegou a um nível
tão alto foi há mais de três milhões de anos.
O dióxido de carbono emitido para a atmosfera pela queima de
combustíveis fósseis e outras atividades humanas é o principal gás do efeito
estufa, contribuindo com grande parte do aquecimento global. Assim que é
emitido, o gás se espalha pela atmosfera — onde permanece por milhares de anos
—, aprisionando a radiação do Sol e impedindo que o calor seja dissipado do
planeta. Desde que os cientistas começaram a acompanhar sua concentração na
atmosfera, ela vem crescendo a taxas cada vez maiores. Antes da Revolução
Industrial, no século 19, a
concentração média de CO2 era de cerca de 280 partes por milhão.
Os primeiros dados obtidos pelo Observatório Mauna Loa, em
1958, mostravam que a concentração de CO2 já estava na faixa de 316 partes por
milhão. A partir daí, o nível só aumentou. Durante os primeiros anos de
medição, a concentração crescia a uma taxa de 0,7 partes por milhão por ano. Na
última década, esse crescimento acelerou e chegou a 2,1 partes por milhão por
ano.
Observações realizadas no Observatório pela Administração
Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos e pelo Instituto Scripps de
Oceanografia durante as últimas semanas já mostravam que a marca estava para
ser atingida. "Esse crescimento não é uma surpresa para os cientistas.
Isso é uma evidência conclusiva de que o forte crescimento nas emissões globais
de CO2 vindas da queima de carvão, pertróleo e gás natural está levando a essa
aceleração", diz Pieter Tans, pesquisador do Administração Nacional
Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos.
Marco pré-histórico — Durante os últimos 800.000 anos, a
concentração de CO2 na atmosfera ficou entre 180 partes por milhão — durante as
eras glaciais — e 280 partes por milhão, nos períodos mais quentes. A taxa
atual de crescimento na concentração do gás é mais de 100 vezes mais rápida do
que o aumento que houve no final da última Era Glacial.
Os cientistas estimam que a última vez e que a concentração
de CO2 chegou ao nível atual foi há mais
de três milhões de anos, durante o Plioceno, época geológica em que as
temperaturas na Terra eram cerca de três graus mais quentes do que hoje.
"Não há como impedir que o dióxido de carbono ultrapasse a marca das 400
partes por milhão. Isso já aconteceu. Mas o que acontecer daqui para frente
ainda vai influenciar no clima e pode ser controlado", disse Ralph
Keeling, pesquisador do Instituto Scripps de Oceanografia.
Limite — Os dados do IPCC ( o painel de mudanças climáticas
da ONU) sugerem que a concentração de 450 ppm representa o limite a partir do
qual o aquecimento ganharia uma dinâmica que poderia prejudicar a existência
humana sobre o planeta. O ideal, ainda
de acordo com o IPCC, seria manter a concentração abaixo de 450 ppm para evitar
que a temperatura subisse acima dos 2 graus Celsius, limite capaz de provocar
danos no ecossistema. Segundo estimativas do órgão, no pior cenário acabariam
as geleiras do planeta.
É significativo o fato de a concentração de CO2 ter
ultrapassado o limite de 400 ppm. Mas ainda é impossível precisar de forma
definitiva quais serão os efeitos dessa concentração sobre o planeta.
Além disso, as medições do IPCC têm sido alvo de várias
críticas. Como afirmou o climatologista inglês Nicholas Lewis em reportagem de
VEJA, publicada em 8 de maio, que usou dados do próprio IPCC para prever o
aumento da temperatura global até o ano 2100, não existe o risco de se concretizarem
a maioria das previsões catastróficas que são propaladas pelos alarmistas, como
a de que cidades à beira-mar vão ficar submersas.
Fonte: veja.abril.com.br
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