Pesquisa mostra que as geleiras do planeta perdem por ano
cerca de 259 trilhões de quilos de gelo, que são jogados nos oceanos do planeta
Geleiras são massas de gelo de até 50.000 quilômetros
quadrados que se formam sobre as partes terrestres do planeta. Apesar de serem
imensas, elas representam apenas 1% do gelo terrestre do mundo. Todo o resto
está armazenado nos chamados mantos de gelo, camadas maiores que 50.000 quilômetros
quadrados só encontradas na Groenlândia e na Antártida. Uma nova pesquisa
mostrou que, apesar de representarem uma quantidade tão pequena do gelo
mundial, o derretimento das geleiras é responsável por um terço do aumento no
nível do mar medido nos últimos seis anos. O estudo foi publicado na revista
Science.
O novo estudo usou dois satélites lançados pela Nasa e
expedições terrestres para fazer as medidas mais precisas até agora do quanto
as geleiras diminuíram em decorrência do aquecimento do planeta. As medições
mostraram que, entre 2003 e 2009, elas perderam 259 trilhões de quilos de gelo
por ano. Essa água, jogada nos oceanos, seria responsável por aumentar o nível
do mar em 0,7
milímetro ao ano — cerca de 30% de todo o aumento
detectado no período. “Pela primeira vez, nós fomos capazes de medir muito
precisamente o quanto essas geleiras estão contribuindo para o aumento do nível
do mar. Esses corpos menores estão perdendo quase tanta massa quanto os grandes
mantos de gelo”, disse Alex Gardner, pesquisador da Universidade Clark, nos
Estados Unidos.
O estudo se baseia em dados colhidos pela Universidade do
Colorado, que mostra que o nível do mar subiu, em média, 2,2 milímetros por
ano durante o período. Segundo os pesquisadores, outro um terço desse aumento
seria causado pelo derretimento dos mantos de gelo, e o restante pela expansão
térmica da água do mar. “Como a massa global das geleiras é relativamente
pequena em comparação aos grandes mantos de gelo, os pesquisadores tendem a não
se preocupar com elas. Mas nosso estudo mostra que elas são como um pequeno
balde com um grande furo no fundo: ele não deve durar muito — apenas um século
ou dois —, mas enquanto houver gelo nas geleiras, elas serão responsáveis por
uma grande parte do aumento no nível do mar”, diz Tad Pfeffer, glaciologista da
Universidade do Colorado.
Medidas conflitantes — As pesquisas anteriores sobre o
derretimento das geleiras eram feitas apenas com base em dados coletados em
terra. Os pesquisadores geralmente medem as massas de gelo do cume até uma das
pontas da geleira, e extrapolam os dados para toda a área. Esse tipo de técnica
costuma ser muito boa para medir massas pequenas e individuais, mas tende a superestimar
a perda de gelo em regiões maiores. “Observações em terra costumam ser
possíveis apenas nas geleiras mais acessíveis, onde o derretimento é mais
rápido do que a média”, disse Gardner.
Para corrigir as distorções, o estudo também usou dados de
dois satélites da Nasa: o ICESat e o Grace. O primeiro, que parou de funcionar
em 2009, media a altura das geleiras por meio de pulsos de laser que lançava em
direção ao solo. Já o Grace, ainda operacional, é capaz de detectar variações
no campo gravitacional da Terra que são resultantes de mudanças na distribuição
de massa no planeta, incluindo alterações nas massas de gelo. Ao contrário das
estimativas terrestres, os satélites não são bons para medir pequenas geleiras,
mas medem muito bem as grandes regiões.
Juntando as informações, os pesquisadores descobriram que
todas as 19 regiões estudadas perderam gelo entre 2003 e 2009. As geleiras que
mais perderam massa ficam nas regiões árticas do Canadá, Alasca e Groenlândia,
no sul dos Andes e no Himalaia. Em contraste, as geleiras periféricas da
Antártida — pequenos corpos de gelo que não são conectados ao grande manto da
região— contribuíram muito pouco para o aumento no nível do mar durante o
período.
As estimativas atuais dizem que todas as geleiras do mundo
contêm água suficiente para aumentar o nível do mar em sessenta centímetros. Em
comparação, o manto de gelo da Groenlândia, que ocupa 1,7 milhão de quilômetros
quadrados, tem o potencial de contribuir com cerca de seis metros de água;
enquanto o da Antártida, ocupando 14 milhões de quilômetros quadrados, pode
contribuir com pouco menos de sessenta metros.
Fonte: veja.abril.com.br
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