As células contêm, uma programação para
morrer na
hora certa. Esse fenômeno, chamado de apoptose – ou “morte celular
programada” – , ocorre tanto em tecidos embrionários como em tecidos
adultos. Mas, afinal de contas, o que vem a ser a “hora certa” para uma
célula morrer?
Vejamos alguns exemplos. No embrião humano, as mãos e os pés têm,
inicialmente, a forma de uma pá, com os dedos unidos entre si. Por meio
da morte programada das células que ficam entre os dedos, eles se
separam uns dos outros e as mãos e os pés adquirem sua forma definitiva.
O girinos, larvas de anfíbios, têm uma longa cauda no início de sua
vida. Durante a metamorfose, quando se transformam em rãs ou em sapos,
dependendo da espécie, a cauda é reabsorvida e acaba por desaparecer. É
um outro exemplo de morte celular programada.
É importante distinguir a apoptose, fenômeno que podemos considerar ordenado, organizado, do fenômeno de
necrose,
que ocorre quando uma célula sofre algum dano. Na necrose, a célula
atingida rompe-se e derrama seu conteúdo sobre as células vizinhas,
podendo prejudicá-las – lembre-se das enzimas lisossômicas. Na apoptose,
pelo contrário, as células “encolhem” aos poucos devido à destruição
enzimática interna de suas estruturas, como o citoesqueleto, a membrana
nuclear e a cromatia. Quase imediatamente, os fragmentos dessas células
são fagocitados por macrófagos, antes de terem tempo de “vazar” e
danificar as vizinhas. Na apoptose, ocorre no interior da célula uma
série de reações controladas por uma categoria de enzimas, as
caspases,
que agem em “cascata”, ativando uma às outras e digerindo materiais
celulares. O estímulo para que a apoptose seja desencadeada é, muitas
vezes, uma substância produzida por outras células. Por exemplo, no caso
das células da cauda de girino, descobriu-se que o “gatilho” é o
hormônio tireoidiano, que há tempos se sabia estar relacionado ao
processo da metamorfose.
O aumento da taxa desse hormônio no sangue funciona, assim, como um
sinal para que as células da cauda se “suicidem” de forma ordenada. Nos
adultos também ocorre morte celular em tecidos de vários órgãos, como a
pele, o intestino, a medula óssea e o fígado. Muito provavelmente,
nesses casos, a apoptose te o papel de regular a quantidade de células
que existem num órgão normal, por meio do equilíbrio entre o surgimento
de novas células, por divisão, e a morte das mais antigas. É fácil
perceber que, se o mecanismo de morte programado for perturbado nem
certo grupo de células – ou, em outras palavras, se esse grupo perder a
capacidade de se “suicida” -, o equilíbrio entre multiplicação celular e
destruição celular será rompido, o que poderia ser uma das explicações
para o aparecimento de tumores.
Os próximos anos trarão, sem dúvida, um conhecimento mais preciso sobre
os detalhes dos ciclos celulares e das condições que agem como
“gatilhos” , tanto para a multiplicação como para a destruição das
células. É também quase certo que esse conhecimento nos deixará mais
próximo de entender e, quem sabe, controlar os diversos tipos de câncer
que afligem a espécie humana.