Formato de pedregulhos fotografados pelo robô Curiosity
sugere que eles teriam se formado em um rio, há bilhões de anos
Há algum tempo os pesquisadores teorizam sobre a existência
de água líquida em Marte. Hoje em dia, a superfície do planeta é basicamente
uma vastidão seca e fria, mas diversas formações rochosas — como vales e canais
— sugerem um passado muito mais úmido. Uma nova pesquisa publicada nesta
quinta-feira na revista Science fornece as evidências mais fortes até hoje de
que Marte não só possuía água, mas também rios por onde ela corria.
A pesquisa analisou imagens capturadas pelo robô Curiosity
no ano passado, que mostravam formações de cascalho e rochas. Assim que
apareceram, as fotografias chamaram a atenção dos pesquisadores, pois a
estrutura parecia ter se formado no leito de um rio. A nova pesquisa confirma a
impressão inicial, sugerindo a presença de água corrente no planeta há cerca de
três bilhões de anos.
As imagens formam um grande mosaico, de 1,4 metro por 80 centímetros ,
mostrando algumas áreas com grandes acúmulos de rochas, cimentadas como se
fossem concreto. "Nós dividimos a imagem em campos menores, de 10 milímetros , e
começamos a analisar o cascalho, que é formado por grãos grossos de areia
medindo em torno de 0,3
milímetro . Depois, examinamos as pedras que medem entre
4 e 40 milímetros
em maior detalhe. Ao todo, fizemos uma análise minuciosa de 515 pedras ", diz
Asmus Koefoed, pesquisador do Instituto Niels Bohr da Universidade de
Copenhague e autor do estudo.
Quando as rochas são desgastadas pelo vento, elas se tornam
angulares e ásperas — o que não era o caso das pedras fotografadas. Quando elas
se movem em fluxos de água, no entanto, o desgaste acontece de uma maneira
completamente diferente. Nesse caso, as pedras correm em meio a uma mistura de
água e areia, batendo umas nas outras, fazendo com que seus cantos e bordas se
tornem, eventualmente, suaves e arredondados — assim como as rochas
fotografadas. “Descobrimos que quase todas as 515 pedras analisadas
eram planas, lisas e redondas”, afirma Koefoed.
Formação — Segundo os pesquisadores, os depósitos analisados
foram formados a partir do fluxo conjunto de areia fina, lama, cascalho e
pedra. Todos esses sedimentos teriam se aglutinado com o passar do tempo,
formando um material duro, parecido com o concreto. Os sedimentos localizados
nas partes mais superficiais da formação foram, posteriormente, desgastados por
partículas de areia carregadas em fortes ventanias.
O resultado permite aos pesquisadores entender um pouco mais
sobre o passado de Marte. "Para mover e formar essas pedras arredondadas,
é necessário que tenha existido água corrente com uma profundidade de entre 10 centímetros e um
metro, com um fluxo de cerca de 1
metro por segundo — um pouco mais rápido do que um
típico rio dinamarquês", explica Morten Bo Madsen, pesquisador do
Instituto Niels Bohr.
Até agora, os pesquisadores pensavam que o período quente e
úmido de Marte deveria ter acontecido entre 3,5 e 3,7 bilhões de anos atrás,
mas o novo estudo sugere que ele se estendeu até entre 2 e 3 bilhões de anos
atrás.
Segundo os pesquisadores, o estudo mostra que o planeta pode
ter sido um local dinâmico, muito mais propício ao desenvolvimento da vida do
que hoje. Além de água corrente, pesquisas recentes usando o Curiosity
mostraram que havia em sua superfície uma série de minerais essenciais para a
vida de microorganismos. Assim, o robô cumpriu um dos objetivos para o qual foi
construído: investigar se Marte, em algum momento, foi um ambiente com
condições para o desenvolvimento de vida.
Fonte: veja.abril.com.br
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