Criatura, batizada 'Aurornis xui', viveu há 160 milhões de
anos, segundo estudo
Uma descoberta publicada na revista Nature pode mudar a
ideia atual sobre a ancestralidade das aves. O paleontólogo Pascal Godefroit,
do Instituto Real Belga de Ciências Naturais, em Bruxelas, identificou um
esqueleto que, segundo sua controversa tese, corresponde à ave mais antiga do
mundo. De acordo com ele, a criatura, batizada de Aurornis xui, viveu durante o
período Jurássico, há aproximadamente 160 milhões de anos.
O fóssil em questão foi desenterrado por um fazendeiro da
província de Liaoning, localizada no nordeste da China, e fazia parte da
coleção do museu do Parque de Fósseis e Geologia de Yizhou. Lá, o esqueleto
permanecia intacto e sem identificação, até que Godefroit o encontrou.
Imagina-se que o Aurornis xui tenha sido um animal coberto por penas, com bico,
cauda e duas longas pernas que o ajudavam a se locomover pelas florestas
jurássicas. Da ponta de seu bico até o fim de sua cauda, deveria medir
aproximadamente meio metro.
Segundo o paleontólogo, a criatura provavelmente não era
capaz de voar, mas usava suas asas para planar de árvore em árvore — não é
possível ter certeza disso, porém, já que suas penas não foram bem preservadas.
Apesar disso, para Godefroit, diversas outras características, como os ossos do
quadril do Aurornis xui, provam sua relação com os pássaros modernos.
Tese controversa — As aves surgiram como dinossauros que
adquiriram a habilidade de voar. As mudanças morfológicas que tiveram de
ocorrer para permitir essa habilidade fizeram com que a aparência dos pássaros
se tornasse diferente da dos demais dinossauros – mas ambos os grupos
mantiveram características em comum, como, por exemplo, as penas.
Por 150 anos, o Archaeopteryx, um dinossauro que habitou a
região que hoje corresponde à Alemanha por volta de 150 milhões de anos atrás,
foi considerado o ancestral mais antigo do grupo das aves e, portanto, o
"elo evolutivo" entre os dinossauros e as aves. Em 2011, porém, após
a descoberta de fósseis que se assemelhavam ao Archaeopteryx, mas apresentavam
uma morfologia mais próxima da dos dinossauros não-avianos, o ancestral perdeu
seu posto e passou a ser visto somente como um dinossauro com penas, e não uma
ave.
Como o Archaeopteryx era capaz de planar, sua
reclassificação fez com que os cientistas acreditassem que houve, na história,
duas grandes evoluções adaptativas relacionadas ao voo: uma das aves, e outra
dos dinossauros.
Agora, Pascal Godefroit e os demais membros de sua equipe de
pesquisa defendem a ideia de que o Aurornis xui deve ser considerado a ave mais
antiga do mundo. "Em minha opinião, trata-se de um pássaro", afirma
Godefroit. "Mas esse tipo de hipótese sempre é controversa. Nós estamos
falando da origem de um grupo."
A tese defendida pelo paleontólogo implica também no retorno
do Archaeopteryx ao grupo das aves — embora não mais como ancestral. Além
disso, a ideia também traz de volta a noção de que a habilidade de voar surgiu
uma única vez, na evolução da linhagem dos dinossauros que deu origem às
aves.
A teoria de Godefroit, porém, tem gerado controvérsias. O
diretor do Instituto dos Dinossauros do Museu de História Nacional de Los
Angeles, Luis Chiappe, discorda do paleontógo. Para ele, o Archaeopteryx é a
criatura que merece o título de ancestral de aves. "O Aurornis é algo que
está muito perto da origem dos pássaros, mas não é um pássaro", disse, em
entrevista à Nature. Apesar disso, Chiappe reconhece a importância do fóssil
encontrado, dizendo que se trata de um espécime interessante.
Fonte: veja.abril.com.br
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