Fóssil descoberto na China revela espécie que viveu há 55
milhões de anos
Paleontólogos descobriram na China um esqueleto quase
completo de um pequeno primata que viveu há 55 milhões de anos. Esse é o fóssil
mais antigo do tipo já encontrado — pelo menos 7 milhões de anos mais velho do
que os outros fósseis de primatas — e pode ajudar a revelar uma série de
detalhes sobre a evolução dos ancestrais humanos. A pesquisa que relata o
achado foi publicada nesta quinta-feira na revista Nature.
Segundo os cientistas, o esqueleto encontrado também é
importante por pertencer a uma espécie mais próxima aos humanos do que outros
fósseis de antigos primatas. "Embora os cientistas já tenham encontrado
alguns dentes, maxilares, crânios e ossos de primatas desse mesmo período,
nenhuma dessas evidências era tão completa quanto este novo esqueleto. Com mais
ossos, ganhamos mais informações e melhores evidências para estudar a evolução
dos primatas. Começamos a abrir mão da especulação", diz um dos autores do artigo, Dan Gebo,
antropólogo da Universidade do Norte de Illinois, nos Estados Unidos.
O fóssil foi descoberto por Xijun Ni, paleontólogo da
Academia Chinesa de Ciências, durante trabalhos de campo realizados na
província de Hubei, no centro da China. O esqueleto foi entregue ao cientista
por um fazendeiro local, que o havia encontrado em meio a uma pedreira onde já
foram encontrados vários fósseis de peixes e aves antigos. Segundo os
pesquisadores, há cerca de 50 milhões de anos a região era formada por um grande
conjunto de lagos, cercado por florestas tropicais exuberantes.
O esqueleto havia passado milhões de anos encapsulado dentro
de uma rocha na pedreira, e só foi descoberto quando o fazendeiro a partiu ao
meio. "Nossa análise mostra que este novo primata era muito pequeno e
pesava menos de 30 gramas .
Tinha pernas finas e uma cauda longa. Ele teria sido um excelente saltador de
árvores e se alimentava de insetos", diz Xijun Ni.
Os pesquisadores nomearam a nova espécie como Archicebus
achilles. Archi é a palavra grega para início, e Cebus significa "macaco
de cauda longa". Assim, o gênero Archicebus pode ser traduzido como o
primeiro macaco de cauda longa. O nome da espécie, Aquiles, é uma alusão à
estranha anatomia de seu calcanhar — que, por ser semelhante à encontrada em
macacos modernos, pode ser uma peça chave para entender a evolução dos primatas.
Elo primata — Para estudar a espécie, os pesquisadores
precisaram juntar virtualmente as partes do fóssil que foram separadas quando a
rocha foi partida, criando uma reconstrução tridimensional, em alta resolução,
do esqueleto do primata. Assim, eles descobriram que o Archicebus possuía uma
combinação pouco usual de características anatômicas que nunca haviam sido
vistas antes. "Ele difere radicalmente de qualquer outro primata, vivo ou
morto, conhecido pela ciência. Ele se parece com um híbrido: possui os pés de
um macaco pequeno, os braços, pernas e dentes de um primata antigo e um crânio
muito primitivo, com olhos surpreendentemente pequenos. A descoberta nos
forçará a reescrever a história da evolução da linhagem que deu origem ao
homem", diz Christopher Beard, pesquisador do Museu Carnegie de História
Natural.
Os pesquisadores dizem que o esqueleto é essencial para
entender um evento importante na evolução primata e humana: a divergência
evolutiva que separou o grupo dos macacos e grandes primatas do grupo dos
társios — pequenos primatas com olhos enormes que hoje em dia só são
encontrados em ilhas no sudeste asiático. "Interpretamos esta nova
combinação de características como prova de que este fóssil é bastante
primitivo, e sua anatomia única é um elo entre os társios e os macacos",
afirma Beard.
Os pesquisadores dizem que fósseis de antigos primatas foram
descobertos em vários continentes, mas os mais antigos, como o do Archicebus
achilles, apontam para a Ásia como o local onde a linhagem se originou.
"No passado, muitos cientistas acreditavam que a África foi o continente
de origem de todos os primatas, mas na última década parece que a Ásia se
tornou o continente mais provável de origem, e esse novo esqueleto apoia esta
suposição", afirma Dan Gebo.
Fonte: veja.abril.com.br
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