No Brasil existem dois grupos de formigas cortadeiras – assim
chamadas por terem o hábito de cortar pequenos pedaços de folhas e
outras partes das plantas e levá-los para o interior do formigueiro. São
eles: as saúvas (gênero Atta) e as quenquéns (gênero Acromyrmex).
Quem vê essas formigas, tão ativas, carregando sem parar todos os
pedaços de matéria vegetal que podem encontrar, é levado a supor que
elas o fazem para mais tarde consumir, no “sossego” de seu formigueiro,
toda aquela comida. Mas não é bem assim.
A verdade é que as formigas cortadeiras são os “agricultores” mais antigos do mundo. A maior parte da biomassa de material vegetal é utilizada por essas formigas para cultivar, em “jardins” subterrâneos escondidos no interior do formigueiro, um fungo da espécie Leucoagaricus gongylophorus, como o qual as formigas mantêm uma delicada relação de mutualismo. Enquanto cabe a elas a tarefa de sair e trazer para o formigueiro os pedaços de planta que servirão de substrato para o crescimento do fungo, este “cede” parte de suas hifas para a alimentação das formigas. Estas hifas, aliás, são o único alimento disponível para a rainha e as larvas, pois elas, de certa forma, vivem “aprisionadas” no interior do formigueiro.
Os pesquisadores acreditam que a relação simbiótica entre as formigas cortadeiras e esse tipo de fungo foi se desenvolvendo ao longo dos últimos 50 milhões de anos. Alguns cientistas afirmam que, de início, a relação teria se desenvolvido com alguma espécie de fungo saprofítico, isto é, de vida livre no solo, dedicado à decomposição de matéria orgânica de origem vegetal ou animal. Outros defendem a ideia de que a espécie ancestral do fungo já vivia no solo em associação com as raízes de certas plantas.
Seja como for, o fato é que a interdependência entre as formigas cortadeiras e o fungo tornou-se tão grande que essas formigas não são mais capazes de produzir todas as enzimas digestivas de que necessitam: parte delas são, obrigatoriamente, fornecidas pelo fungo, assim como determinados tipos de nutrientes por ele sintetizados.
Já o fungo não tem de que se queixar. Embora tenha suas hifas continuamente “podadas” pelas formigas, o que o impede de crescer independentemente, ele é muito bem cuidado por esses animais. As formigas providenciam um ambiente adequado para o seu crescimento, removendo contaminantes (como esporos de outras espécies de fungos, que poderiam competir com o fungo cultivado) e secretando substâncias antibióticas (para eliminar bactérias indesejáveis, que também competiriam com o fungo). Além disso, tratam de adubar continuamente os “canteiros” com suas fezes, e transplantam o fungo para “jardins” novos, com matéria vegetal fresca, sempre que necessário. Um verdadeiro serviço de “agricultura” ou “jardineiro”.
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