Pesquisadores
descobriram que os insetos não possuem um senso natural de localização, mas usam
pontos de referência para se guiar durante migração
Todos os outonos, milhões de borboletas monarcas (Danaus
plexippus) iniciam uma viagem de até 4.000 quilômetros
em direção ao sul. Elas saem das regiões mais frias nos Estados Unidos e Canadá
em direção a santuários localizados no planalto central mexicano. O mecanismo
usado pelas borboletas para se guiar durante seus voos sempre intrigou os
cientistas, principalmente porque elas só fazem a viagem uma vez na vida. De
acordo com um novo estudo publicado nesta segunda-feira na revista PNAS, elas
são capazes de se locomover sem possuir um senso interno de localização, mas se
guiando por pontos de referência no solo.
Ao analisar as grandes distâncias percorridas pelas
borboletas, os pesquisadores pensavam que que elas eram "verdadeiros
navegadores", ou seja, possuíam um senso de orientação baseado em uma
bússola e um mapa internos, como acontece com algumas aves migratórias. Assim,
elas seriam capazes não só de saber para qual direção voar, mas também
conseguiriam determinar sua localização atual em relação ao destino final. "Os
cientistas sabem há algum tempo que as borboletas monarcas usam pistas
externas, como o sol e os campos magnéticos, como uma espécie de bússola que
ajuda a indicar sua latitude. Mas, para ter um mapa interno, elas também
precisam ter conhecimento da longitude", disse Ryan Norris, biólogo da
Universidade de Guelph, no Canadá.
Para descobrir se as borboletas podiam detectar naturalmente
mudanças de longitude, os pesquisadores examinaram seu padrão de voo em
simuladores localizados na cidade de Guelph, no leste do Canadá. Após o final
dos testes, as mesmas borboletas foram transportadas até a cidade de Calgary, 2.500 quilômetros
em direção ao oeste. "As monarcas que estudamos em Guelph voaram em
direção ao sudoeste, voltadas para o México. Quando as testamos em Calgary,
elas voaram na mesma direção, como se não soubessem que haviam sido deslocadas 2.500 quilômetros ",
disse Rachael Derbyshire, pesquisadora da Universidade de Guelph responsável
pelo estudo.
Ao mostrar que as borboletas não eram capazes de saber que
foram deslocadas, os pesquisadores provaram que elas possuíam o compasso natural,
que guiava a direção para a qual elas deveriam ir, mas não o mapa. Para
descobrir como elas, de fato, se localizavam, os pesquisadores tiveram de
analisar dados coletados durante mais de 50 anos — de 1952 a 2004 — de estudos
sobre a migração da borboleta.
Assim, descobriram que as monarcas não usam um mapa interno,
mas baseiam seu voo em pontos de referência no solo, como as montanhas e o
desenho do litoral. "Dada a dificuldade dessa jornada migratória e o fato
de esses insetos pesarem menos de um grama, eles usam um sistema incrivelmente
simples para viajar milhares de quilômetros em direção a uma região em que
nunca estiveram", disse Norris.
Terminado o estudo, uma questão permanece. Apesar de saber
como as borboletas se guiam durante seu voo, os pesquisadores ainda são
incapazes de explicar como elas percebem que finalmente chegaram a seu destino
no México. "Uma possibilidade que pensamos ser provável, mas ainda precisa
ser testada, é que elas — como outros animais migratórios — usam o olfato para
se guiar até sua localização final", disse Derbyshire.
Fonte: veja.abril.com.br
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