Procedimento permitiu a comunicação entre o cérebro de duas
espécies distintas, de maneira não invasiva
Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Harvard
conseguiram fazer com que um ser humano movimentasse o rabo de um rato
desacordado usando apenas seu pensamento. Os cientistas foram capazes de ligar
os cérebros dos dois participantes sem nenhum tipo de intervenção cirúrgica,
usando apenas um eletroencefalograma para captar a atividade cerebral do homem
e ondas de ultrassom para estimular as áreas do cérebro do rato responsáveis
pelo movimento. O estudo foi publicado nesta quarta-feira na revista PLOS ONE.
A primeira interface cérebro-cérebro foi anunciada em
fevereiro, quando o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis fez com que dois
ratos transmitissem sinais tácteis e motores entre seus cérebros. Nesse caso,
no entanto, foram instalados pequenos eletrodos — menores que fios de cabelos —
em áreas especializadas de seus cérebros. Em um dos animais, localizado no
Instituto Internacional de Neurociências de Natal, os eletrodos captaram a
atividade elétrica do cérebro, enquanto no outro, localizado na Universidade
Duke, nos Estados Unidos, eles aplicaram os sinais.
Seung-Schik Yoo, pesquisador da Faculdade de Medicina de
Harvard responsável pelo estudo atual, reconhece que os trabalhos de seu grupo
de pesquisa são inspirados nos realizados no laboratório de Nicolelis, mas sua
pesquisa pretende ir um pouco além. Ele pretende demonstrar que a interface
cérebro-cérebro também pode ser atingida entre duas espécies diferentes, e sem
utilizar procedimentos invasivos. Em vez eletrodos de implantados no cérebro,
eles usaram um eletroencefalograma para capturar a atividade elétrica do órgão.
Para isso, treinaram seis voluntários em uma técnica que poderiam usar para
estimular a atividade de seu cérebro de maneira intencional.
No treinamento, os voluntários foram colocados de frente a
um vídeo, onde apareciam objetos piscando. Quando o indivíduo focava sua visão
no objeto brilhante, seu cérebro se sincronizava com as luzes que piscavam e
passava a gerar uma atividade elétrica em frequência semelhante. Se ele
desviava seu olhar, mesmo que não fechasse os olhos, a atividade elétrica
sumia. Como resultado, quando o voluntário queria que o rabo do rato se
movimentasse, bastava focar sua visão no objeto, que o aparelho de
eletroencefalograma captaria a atividade do cérebro e transmitiria a intenção à
frente.
O animal, no outro extremo da interface, estava anestesiado
e preso a um aparelho que emitia ondas às usadas nas máquinas de ultrassom de
consultórios médicos. Quando o sinal que indicava a intenção de movimento era
transmitido ao aparelho, ele passava a emitir as ondas em direção ao córtex
motor do animal, responsável pelo movimento. A partir de um sensor instalado no
rabo, os pesquisadores puderam ver que todos os seis voluntários foram capazes
de estabelecer a interface cérebro-cérebro e induzir o rabo ao movimento.
Fonte: veja.abril.com.br
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