Estimativa supera em mil graus cálculos de experimentos
anteriores
Pesquisadores conseguiram determinar que a temperatura da
Terra perto de seu centro é de 6.000 graus Celsius, mil graus mais quente do
que experimentos anteriores haviam mostrado. Esses cálculos também confirmam
modelos geofísicos que previam que, para explicar a formação do campo magnético
terrestre, a diferença entre a temperatura do núcleo e do manto terrestre
deveria ser de 1.500 graus. O resultado foi publicado nesta quinta-feira na
revista Science.
O núcleo da Terra é formado, em sua maior parte, por uma
esfera de ferro líquido com temperaturas superiores a 4.000 graus Celsius e
pressão equivalente à de 1,3 milhão de atmosferas. Sob essas condições, o ferro
se torna tão líquido quanto a água dos oceanos. É apenas no centro dessa
esfera, onde as temperaturas e pressão são ainda maiores, que o ferro volta a
se solidificar.
Os pesquisadores conhecem a maior parte dessas
características a partir da análise do movimento das ondas sísmicas — causadas
por terremotos — entre essas camadas. Essas ondas, no entanto, não são capazes
de mostrar a temperatura nessas regiões, o que deixa de fora informações
importantes para os cientistas compreenderem os movimentos dos materiais que
compõem o centro da Terra. Por exemplo, a diferença entre as temperaturas do
núcleo e do manto é um dos fatores responsáveis, junto com a rotação do
planeta, por gerar o campo magnético da Terra.
Para descobrir a temperatura dessas camadas, os cientistas
analisaram a temperatura de fusão do ferro em diferentes pressões, usando
equipamentos feitos de diamante para comprimir pequenas partículas de ferro a
pressões que são milhões de vezes superiores à exercida pela atmosfera. Nessas
condições, os pesquisadores dispararam poderosos raios laser nas amostras, que
são capazes de esquentar o material a até quase 5.000 graus Celsius. “Na
prática, tivemos de superar muitos desafios experimentais, uma vez que as
amostras precisam ser termicamente isoladas e não podem interagir quimicamente
com o ambiente. Além disso, mesmo que uma amostra alcance temperatura e pressão
extremas como as do centro da Terra, isso só vai acontecer por alguns segundos
— período muito curto para determinar se o material começou a derreter ou
continua sólido”, Agnès Dewaele, pesquisadora da Comissão Francesa de Energia
Atômica e Energias Alternativas, responsável pela pesquisa.
A fim de superar esse problema, os pesquisadores utilizaram
raios-X como ferramenta para analisar as amostras de ferro. “Nós desenvolvemos
uma nova técnica onde raios-X intensos podem atingir uma amostra e deduzir se
ela está sólida, liquida ou parcialmente derretida, em períodos curtos de tempo,
de até um segundo. Isso é rápido o suficiente para que a temperatura e pressão
das amostras sejam mantidas constantes”, disse Mohamed Mezouar, pesquisador do
Laboratório Europeu de Radiação Síncrotron, um dos autores do estudo.
Assim, eles conseguiram determinaram experimentalmente que o
ponto de fusão do ferro é de 4.800 graus a uma pressão de 2,2 milhões de
atmosferas — os limites do equipamento. Utilizando modelos matemáticos, os
pesquisadores calcularam o mesmo ponto de fusão para uma pressão de 3,3 atmosferas,
equivalente à sentida na fronteira entre o núcleo sólido e o liquido. O
resultado foi 6.000 graus Celsius.
Os pesquisadores também descobriram por que as pesquisas
anteriores haviam calculado essa temperatura de forma errada. Segundo os
cientistas, a partir dos 2.400 graus, um processo químico conhecido como
recristalização acontece na superfície do ferro, levando a mudanças em sua
estrutura. A pesquisa anterior havia usado técnicas ópticas para determinar se
as amostras estavam sólidas ou líquidas, e é possível que os pesquisadores
tenham interpretado a recristalização na superfície da amostra como um sinal de
seu derretimento.
Fonte: veja.abril.com.br
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