Estudo mostra que florestas da América, Ásia e África podem
sobreviver às mudanças climáticas do século 21
Uma nova pesquisa publicada neste domingo mostra que as
florestas tropicais correm menos risco de perder sua cobertura vegetal como
consequência do aquecimento global do que as previsões mais alarmistas
mostravam. Na análise mais completa já feita sobre o perigo de as florestas
tropicais entrarem em colapso por causa das emissões de gases do efeito estufas
ao longo do século 21, os pesquisadores mostraram que elas serão capazes de
suportar a maior parte dos danos trazidos pelo aumento de temperatura. O estudo
foi publicado na revista Nature Geoscience.
Como as florestas são capazes de armazenar uma grande
quantidade de carbono, sua capacidade de resistir aos efeitos do aquecimento
global é importante para o planejamento de novos programas de redução de
emissão de gases do efeito estufa e de combate ao aquecimento do planeta. No
entanto, essa capacidade era, até agora, incerta. "Desde os anos 2000 que
se discute sobre a capacidade de a Amazônia resistir às mudanças climáticas.
Algumas previsões eram muito catastróficas, mas a incerteza dos modelos usados
na época ainda era muito grande", disse José Marengo, pesquisador do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e um dos autores da pesquisa,
em entrevista ao site de VEJA.
Para realizar esse tipo de medição, os pesquisadores têm de
lidar com dois tipos de incerteza. Uma delas leva em conta os diferentes
aumentos de temperatura projetados para o século 21, e a outra é referente aos
processos fisiológicos das plantas, que ainda não estão completamente
desvendados. Por causa disso, os pesquisadores usaram simulações de computador
para calcular a resiliência das florestas em 22 modelos diferentes, com
aumentos de temperatura que iam até quatro graus Celsius. Os cálculos levaram
em conta as florestas tropicais da América, Ásia e África.
Como resultado, descobriram que em 21 dos 22 modelos as
florestas seriam capazes manter sua cobertura vegetal — ou recuperá-la— após o
aumento de temperatura. Em apenas um caso houve uma diminuição nas florestas, e
apenas na América. "A pesquisa mostra que não chegaremos ao extremo de as
florestas desaparecerem. Na maior parte dos casos, elas podem até perder uma
pequena parte de seu estoque de carbono, mas não chegarão a perder tanta massa
a ponto de entrar em colapso", disse Marengo.
Incertezas – Ao comparar os diferentes modelos, os
pesquisadores descobriram que a maior parte das incertezas nessa medição vem
dos processos fisiológicos das plantas, e não das diferentes projeções de
aquecimento global. "A grande surpresa em nossa análise é que a incerteza
nos modelos ecológicos das florestas tropicais é significantemente maior do que
a incerteza vinda das diferenças nas projeções do clima", diz David
Galbraith, pesquisador da Universidade de Leeds, na Inglaterra, que participou
da pesquisa.
Apesar de o estudo sugerir que o risco de as florestas
sofrerem danos por causa do aquecimento global são pequenos, os pesquisadores
deixam claro que não se trata de um sinal verde para a emissão de gases do
efeito estufa. Eles lembram, por exemplo, que seus modelos não levaram em conta
as queimadas e a derrubada intencional das florestas, que também podem afetar a
quantidade de carbono armazenado. "A pesquisa não pode ser interpretada
como um sinal para continuar desmatando e liberando gás carbônico na atmosfera.
Ela apenas mostra que o cenário não é catastrófico: as florestas perderão
robustez, mas continuarão sendo florestas", afirmou José Marengo.
"Descobrimos que a floresta é razoavelmente resistente às mudanças
climáticas. Não podemos continuar puxando essa resistência em direção ao
colapso".
Fonte: veja.abril.com.br
Fonte: veja.abril.com.br
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