Assim como acontece com algumas espécies de aves, feras do Mesozoico
também podiam secretar substância similar ao colostro, diz Paul Else.
A teoria de que os dinossauros são animais mais próximos das aves — e
não dos répteis — acaba de ganhar um importante argumento. De acordo com
estudo publicado no The Journal of Experimental Biology, algumas
espécies de dinossauros poderiam produzir um tipo de leite. Lançada
pelo professor e fisiologista Paul Else, da Universidade de Wollongong,
na Austrália, a tese se baseia na fisiologia das aves. Assim, Else
acredita que algumas espécies de dinossauros, como os hadrossauros,
secretavam uma susbtância similar ao colostro, que ficaria armazenado no
papo.
“Uma das preocupações da fisiologia comparada é que temos muita
informação sobre a estrutura dos dinossauros, mas pouca sobre sua
fisiologia”, afirma o pesquisador em entrevista ao site de VEJA.
“Pesquisadores recentes começaram a pensar neles como mais próximos de
aves que de répteis. Eu sabia que alguns pássaros têm a capacidade de
alimentar seus filhotes com um produto parecido com o leite. Fiquei
surpreso que ninguém tenha sugerido que os dinossauros também poderiam
ter desenvolvido esta estratégia”, conta.
Algumas aves, como pombos, pinguins e flamingos, produzem uma substância parecida com o leite, mas que varia entre líquida e sólida. Essa substância é produzida em uma estrutura localizada entre o esôfago e o estômago. “Essas estruturas, que podem ser o papo, parte do esôfago, o esôfago propriamente ou a parte superior do estômago, dependendo do animal, estão sempre produzindo secreções que umedecem os alimentos e ajudam a engoli-los. Em um ambiente hormonal apropriado, essas estruturas começam a produzir um muco similar ao leite”, diz Else.
Supercrescimento — Para o pesquisador, a maior vantagem dessa forma de alimentação seria a possibilidade de oferecer, de forma concentrada, nutrientes necessários ao crescimento e desenvolvimento dos filhotes. “Pombos produzem leite com o qual alimentam seus filhotes durante as três ou quatro primeiras semanas de vida. Eles adicionam a este leite um hormônio de crescimento epitelial que permite que seus filhotes cresçam a taxas fenomenais. Os pombos atingem 85% do tamanho que terão quando adultos em três semanas após o nascimento”, diz Else. A ideia é reforçada pelo fato de que os dinossauros nasciam pequenos se comparados ao tamanho que atingiam quando adultos. Com este hormônio adicionado ao leite, eles poderiam, portanto, evitar predadores e juntar rebanhos mais rapidamente.
Shake aditivado — De acordo com o pesquisador, o leite de dinossauro deveria ser parecido com o colostro, produzido por mamíferos logo após o nascimento do filhote. “Teria muito dos ingredientes básicos do leite de mamíferos, mas com metade das gorduras, metade da água e um pouco de carboidratos”, explica. A quantidade de carboidratos poderia variar de acordo com a consistência do leite produzido. “Poderia ser fluido, como de mamíferos; semi-sólido, parecido com queijo cottage, como o produzido por pinguins imperadores; ou com consistência mais sólida, como o produzido por pombos”, diz. A consistência também dependeria do “aditivo” que o leite ganharia, como hormônio do crescimento, antioxidantes e antibióticos.
Dieta adulta — Como acontece com mamíferos e com aves, o período de lactação dos dinossauros poderia variar entre as espécies, assim como seria possível que algumas sequer utilizassem este recurso. Tudo poderia variar de acordo com o tamanho do dinossauro e o tempo de permanência no ninho. “Imagino que a maioria das espécies procuraria introduzir rapidamente seus filhotes à dieta normal de um adulto. Assim, a produção de leite não seria um sugador de energia dos pais”, diz o pesquisador. Para ele, o período de produção mais intensa de leite levaria de um a dois meses, seguido de um período onde os pais dinossauros misturariam ao leite alguns alimentos regurgitados para, finalmente, partir para a etapa de alimentação, somente com alimentos regurgitados. Assim, o pequeno dinossauro estaria pronto para uma dieta adulta.
Fonte: veja.abril.com.br
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